Arquivo mensal: setembro 2010

Entrevista Scatha


Blog Rockalogy entrevistou domingo passado (18 de Setembro) a banda Scatha, no estúdio HR, Tijuca – RJ. Logo após o ensaio as meninas falaram ao blog detalhes sobre a banda, da cena do Rio de Janeiro e sobre o álbum que planejam lançar.
A banda começou em 2004 com Julia Pombo e Cíntia, em Agosto de 2005 vocês fizeram sua primeira apresentação no Garage – RJ, até o lançamento da demo Keep Thrashing (Agosto de 2007) a banda já havia mudado sua formação, saindo a Rebecca Schwab e entrando a Angélica Burns. A idéia desde o começo é a de uma banda só com integrantes mulheres?
Júlia e Cíntia: Sempre. Na verdade teve um batera bem no começo, mas porque a gente não encontrava meninas que quisessem tocar.
Como vocês se conheceram?
Júlia: A Cynthia tinha uma banda chamada Trinnity, que já era meio conhecida no underground. Daí a gente conhecia, nós estavamos precisando e ela começou a quebrar uns galhos, e foi ficando. Eu conheci a Cíntia no Tô Sem Banda (www.tosembanda.com). A Angélica entrou na banda por indicação…
Você estão fazendo teste para guitarrista vocês estão procurando prioritariamente outra menina, ou poderia ser alguém do sexo oposto?
Júlia: Não, só mulheres mesmo, se não quebra o ideial da parada
Outra coisa que chama a atenção na banda é o vocal da Angélica, que domina muito bem o gutural. Como você aprendeu a cantar assim?
Angélica: Eu comecei tipo brincando, eu vi outras mulheres fazendo, se elas conseguiam então eu resolvi tentar. Todo mundo da minha banda falou que eu tinha o dom, mas naquela época eu cantava mas não sabia cantar, eu cantava e ferrava a garganta. Daí eu comecei a ter aula com o Syren, tipo de respiração, técnica normal de canto, porque a técnica que eu uso é a que qualquer pessoa usa pra cantar, só que a técnica especial de gutural eu aprendi sozinha, tanto que se alguém me pedir para ensinar eu não sei. Foi com o tempo, hoje eu sei ouvir se alguém está cantando errado ou se está cantando certo, mas eu não sei explicar, eu meio que desenvolvi sozinha, é automático.
De onde vem o nome da banda? O que significa?
Cíntia: É uma deusa Celta dos guerreiros e que infringe o medo, que quando eles iam para a guerra eles recorriam, para não sentirem medo… Sabe, o Keep Thrashing tem a ver com isso também, de você manter-se firme, seguir o ideal mesmo com todas as dificuldades.
No MySpace de vocês o som da banda está classificado como Thrash Metal anos 80, 90, com influência de Megadeth, Slayer, Metallica, Pantera, Kreator, entre outras. Você não acham o Thrash um estilo datado ou vocês acham que vale à pena investir nesse rótulo?
Cíntia: Na verdade agente não investe naquele estilo Thrash Metal anos 80, Bay Area, não, desde o começo a gente é Metal, nosso negócio é ser pesado.
Eu entendo, pois há uma necessidade de se rotular, mesmo que não se encaixe, pra galera ter uma idéia…
Cíntia: É, o negócio é a influência maior. No início a gente tocava Iron Maiden, Black Sabbath, essas coisas, o básico do Heavy Metal. Aí com o tempo a gente foi vendo que o que a gente gostava mesmo era “metranca”, vamos fazer parada pesada, vamos investir na raiva, que é isso que a gente tem, é isso que eu tenho, daí que a gente partiu pro Thrash Metal, tanto que no início a gente falava que era Heavy Thrash.
Está cada vez mais difícil classificar…
Cíntia: Você se rotular é um negócio muito difícil. Nosso som você vê que não tem uma influência só, tem umas paradas cadenciadas, têm músicas que são altamente Thrash, outras que são mais Heavy.
A banda tem um bom material, um número considerável de fãs, vide o grande número de visualizações no You Tube e os players no MySpace, Movidos Pela Raiva, a primeira música, tem quase 10.000 acessos, mas apesar de toda receptividade a banda tem poucos shows marcados. O que vocês podem apontar como sendo a principal causa disso?
Angélica: A precariedade da cena do Rio de Janeiro, nós já tocamos em quase todos os lugares possíveis e esgotou, não dá mais pra gente tocar no mesmo lugar.
Cíntia: E assim, a gente já conhece quase todos os produtores, a gente conhece como eles trabalham, o que cada um faz.
Angélica: Metade são amadores, pedem pra você vender ingresso.
Júlia: Não tem condições de você vender ingresso se você já tem que pagar passagem pra ir, pagar ensaio, pagar gravação… e ainda pagar pra fazer show.
Cíntia: Manutenção dos instrumentos…
Júlia: Por isso que no começo nós fazíamos dois shows por mês, início de banda, show, show, show… agora a gente já está repetindo lugar.
Angélica: Aí chamam a gente pra tocar no Heavy Duty, chega lá não tem estrutura, o som fica embolado, pra quê que eu vou querer fazer um show que ninguém vai entender nada? Aí chamam a gente pra tocar lá em São Paulo, mas não tem dinheiro pra bancar, como que cada um vai banca aqui, 200, 300 reais por cabeça… é complicado.
Vocês tem um show marcado em Brasília no dia 6 de Novembro, quais as suas expectativas para esse show?
Cíntia: A gente só teve essa oportunidade porque foi uma guitarrista que fez o teste com a gente, que trabalha no ramo de produção fonográfica e ela está trabalhando lá, e ela conheceu a galera de lá, e lá tem um público fenomenal sabe.
É o público fora do eixo Rio – São Paulo é super afim que ouvir som novo, o movimento “fora do eixo” é muito mais intenso… mas tem a dificuldade de ir a esses lugares sem qualquer tipo de apoio.
Cíntia: É, a nossa idéia agora, além da gente ter que gravar um álbum, e ter mais visibilidade no mercado estrangeiro, porque eles só aceitam banda pra fazer turnê por lá quando você tem um álbum lançado, uma coisa importante que a gente está tentando é marcar show fora do Rio, porque isso dá um crédito, uma visibilidade maior. Daí o público vê “pô, a banda tá correndo atrás, se divulgando pelo Brasil pelo menos.
Júlia: O problema não é nem a gente conseguir marcar show aqui, tem um monte de gente correndo atrás, “pô, vamos marcar show”, conseguir a gente consegue, o problema é falta de estrutura e de apoio que eles dão pras bandas.
Cíntia: E eles tratam a banda como se fosse sabe, qualquer coisa, é como se você estivesse fazendo um favor.
No site de vocês estava previsto o lançamento de músicas novas para o final de 2009, o plano ainda está de pé? Fale um pouco do que planejam para o novo trabalho.
Angélica: Na verdade a gente já tem o álbum pronto, só falta pegar e gravar.
Cíntia: A gente meio que sofreu uma queda na produção da banda quando a gente perdeu uma guitarrista, porque a gente tocava muita coisa que usavam duas guitarras. A gente teve que adaptar tudo para uma guitarra só e a gente não quer perder o peso, então agora nós estamos mais voltadas totalmente para um som que seja mais direto, entendeu? Sem muita firula porque é uma guitarra, então baixo e guitarra têm que trabalhar de uma forma que não parca peso.
O que vocês acham que seria necessário para mudar a cena aqui do Rio de Janeiro?
Angélica: Eu acho que tem que ter união, porque aqui tem muita “panelinha”, todo mundo fala mal de todo mundo…
É uma luta por espaço, sendo que cada banda vai ter seu público…
Júlia: O público de uma é o público da outra. Não tem isso, não tem exclusividade.
Cíntia: A gente meio que saiu desse meio, porque a gente conhecia muitas bandas quando nós fazíamos mais shows, que ensaiavam aqui, amigos nossos, mas com o tempo cada uma foi ganhando seu público próprio. Só que teve uma época que ficava muito falatório “há, aquelas meninas metidas, não sei o que…”, e a gente nunca teve isso sabe, a gente sempre tocou, sempre tivemos nossos amigos, só que a gente não fala com “todo” mundo, com todas as bandas, porque também não tem como ser tão sociável assim.
Angélica: Nem tem como ir a todos os shows.
Cíntia: …aí depois com o tempo, foi todo mundo ficando mais velho, cada um seguido a sua carreira “de verdade”, profissional, porque a música é nossa profissão também, só que a gente não ganha dinheiro com isso. Tem sido uma diversão por enquanto, é tudo por prazer, a gente toca nos lugares porque a gente gosta.
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A conversa seguiu mais alguns minutos em off. O que ficou claro é que as meninas estão correndo atrás, mesmo com todas as adversidades. Elas estão cientes do que está acontecendo na cena underground do Rio de Janeiro e ressaltando que o que está faltando, e que é essencial, é a união das bandas, eu concordo plenamente e o blog vai bater nesta tecla quantas vezes forem preciso.
Natália Ribeiro
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Performance

 “A performance, ou seja, o ato de tocar, cantar e interpretar uma canção estão conectados aos diversos cenários presentes de forma virtual nos gêneros musicais e materializados nas canções.”*

A performance faz parte da música ela está estreitamente ligada a noção de gênero musical, de modo que criamos expectativas a cerca da performance assim que ouvimos determinada música. O Heavy Metal, com seus diversos subgêneros, é um gênero super performático, de modo que quando nos dizem que o som de tal banda é Thrashão old School já montamos todo o cenário na nossa cabeça, há de fato, pouco espaço para negociação nesse exemplo.

A forma como a música é executada faz toda a diferença, músicos que pouco de movimentam no palco não são bem vistos, a performance do vocalista faz toda diferença na hora de ele ser eleito um bom frontman ou não, e não é só a banda que recebe expectativas, o público também, o público do Heavy Metal tem que agitar, bangear, fazer os chifrinhos com as mãos. A maioria das bandas quer ver a roda se formando durante o seu show, isso quer dizer que a galera está curtindo, isso tem um significado, é a forma como banda e público se comunicam, e no show de Heavy Metal tem muito isso, a platéia é sempre chamada a participar, o que mostra uma relação mais estreita entre banda e público, talvez mais do que em outros gêneros.
A questão da performance vem para mostrar música não é só para ser ouvida, tem a ver com vivenciar, com experiência, não despertar apenas a audição, mas os outros sentidos também, quem nunca ficou arrepiado de ouvir determinada música? A todo momento estamos geramos visualizações para aquilo que estamos ouvindo.

*Jeder Janotti Junior. Mídia, música popular massiva e gêneros musicais, a produção de sentido no formato canção a partir de suas condições de produção e reconhecimento_Compós 2006

Dança Rock

Uma das coisas que mais tem me chamado a atenção entre a galera do Metal Core e derivados, entre outras peculiaridades, é a forma como eles apreciam a música. Troncadas, empurrões, socos no ar, chutes, e outros golpes normalmente não traduzem passos do que costumamos chamar de dança, mas sem dúvidas essa é a forma de expressão corporal que essa galera resolveu adotar.
A forma como o corpo reage à música não poderia ser mais adequada, com um som super agressivo e rápido, a resposta não poderia ser outra. Quem vê de fora pensa que está rolando alguma briga, muitos não entendem que aquela, na verdade, é uma forma de comunhão. Talvez a única forma de “experimentar” aquele som em sua plenitude, é como se aquela sonoridade fosse feita para a dança e o “mosh”, ou simplesmente “a roda”, só fosse possível a partir daquela sonoridade.
Natália R. Ribeiro